"Sobre o toso do meu cavalo tenho a visão de um mundo onde sou tão completa, livre e sem qualquer preconceito. Simplesmente Feliz!!!!"

Raquel Borba Pires

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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Amadrinhadora

  Bom dia!!! (quase boa tarde...rsrs)
Nosso espaço que tem como foco falar do universo da mulher gaúcha dentro do mundo campeiro. Que nos dias de hoje ainda é de maioria masculina.
Mas quero com minhas postagens mostras o papel importante da prenda dentro desse universo.
“Como o toque  feminino, desde pequenina, pode se tornar necessário na lida bruta”.
Então trago para a apreciação dos nossos leitores este texto que retirei do blog “Diário do Andante” de Lisandro Amaral, onde ele relata um dia de lida com sua filha Maria Rita.




Amadrinhadora

Não é por falta de assunto ou motivação que estive sem escrever ao Diário do Andante, e sim, por tratá-lo como uma nova música. Tem que arrepiar o pelo, tirar a fome...  preciso arredar tudo e atender o corpo e a mente que se modificam de maneira inexplicável. Uns chamam de inspiração, eu prefiro chamar de necessidade ou impulso da palavra.
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Esta semana tive que remendar um potrerito, que arrendo na cercania de Bagé. Levei comigo minha filha de quase 6 anos. Era uma grotinha, onde o gado do campo lindeiro, cruzava no final da tardinha para fazer parador no alto da coxilha do meu potreiro. É lindo mesmo o parador, mas como pago pelo potreiro, para que possa apartar meus cavalos dos demais do estabelecimento, tive que remendar.
Chave de arame, trama e uns pedaços de fios, para a reforma, e o mais importante, a presença da pequena ajudante Maria Rita.
Coisa de pai. Mas, não é que a tipa combina com o campo,  feito a pitanga e a corticeira...?
Sua voz indagando tudo: - Que isso pai? Que flor é essa pai? Porque o gado passa aqui? Pra que isso pai? E lá íamos “de apesito”, tapeando mutuca e ela aos fiascos atacada por um lote de formigas pretas que mudaram a cor do All Star vermelho.        
Viu!!! O pai disse pra tu vir de bota.
Serviço feito. Encilhei duas éguas pra recorrermos toda a extensão gigantesca do meu potrerito de umas braças - que quase abraço de tão grande e de tanto que o quero bem.
Acomodei as estriveiras - pra Maria pata curta - e o tenisinho vermelho parecia um par de botas garrão de potro enfiados acima dos meus estrivos de bronze militar.
Ela sobre uma tordilha (orgulho do domador, um tal de “Amaral que se diz cantor”), eu fazendo caminhar com as garras uma zaininha safada que não gosta de folga... dei o cabresto da tordilha pra Maria, atei as rédeas e, um olho cuidava a zaina o outro a Maria...  falei – bem de mansinho - quando já havia agarrado o cabresto da tordilha pra que andasse ao meu lado: filha a égua do pai quer corcovear, e agora eu tô com o teu cabresto na minha mão... e tu que é minha amadrinhadora...
“- Aiiiii paizinho eu não gosto de ser amadrinhadoraaaa...“
Como diria o Aureliano:
Haaa!
Quando a sorte é mesquinha não hai feitiço que ajude!
Nos fumo naquela toada
nesta dança desgranida
onde um taura arrisca a vida
só pra honrar a patacoada.
Fui conversando co´as duas e, chamando a zaina no bico pra não assustar a minha amadrinhadora,  já não mais ajudante de alambrador...
Foi aí que veio a frase da tarde. Muito melhor que uma metida de cavalo pra aquebrantar um corcóveo!
“- Pai, eu nunca vi um pai tão gaúcho que nem tu!”
Perdoa mestre Aureliano, mas cabe uma adaptação.
Froxô e seguiu troteando.
Quebrada é o fim da zainita.
E eu, paradito, com o tino
A pensar desta maneira:
Por ti, a mais linda trigueira,
Tomo susto a vida inteira
No lombo do meu destino.
foto Edu Rckes
 edu.rickes@hotmail.com
Nota
Em negrito: fragmentos do poema Romance De Peão, de Aureliano de Figueiredo Pinto, do livro
Romances de Estância e Querência.